EUA: Novas gerações da diáspora açoriana precisam de mais que o mercado da saudade

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Participantes de um debate sobre os Açores nos Estados Unidos defenderam que as novas gerações da diáspora açoriana na América precisam de mais do que o “mercado da saudade”, uma noção redutora que não mostra a evolução da região.

“Estamos a investir no mercado da saudade para gerações que não têm saudades porque nem sequer conhecem os Açores”, afirmou Tatiana Ourique, técnica superior na Direção Regional da Cultura, numa sessão do simpósio “Filamentos da Herança Atlântica: Os Açores e a Diáspora nos EUA”.

“Temos de lhes dar qualquer coisa que as faça identificar com os Açores”, afirmou, referindo a importância de mostrar a arte e a cultura contemporâneas.

A sessão, intitulada “Os Primos da América: Construindo uma Ponte entre as Novas Gerações”, teve como objetivo a troca de ideias sobre como dinamizar as ligações entre os Açores e a sua diáspora para lá da saudade e das tradições.

Rui Faria, presidente da Associação dos Emigrantes Açorianos, salientou a importância histórica destas ligações, lembrando que sempre teve tios e primos emigrados e que “a alegria maior, mais do que o Natal, era receber um barril da América”.

Ricardo Botelho, que participou no evento como representante da Juventude Socialista, reforçou que “não há açoriano que não tenha um primo da América” e disse que se deve “desmistificar” a saudade, para que não passe “uma versão distorcida” do que o arquipélago é atualmente.

“As novas gerações estão agarradas ao folclore, à dança etnográfica, à música da filarmónica, que são património, que os emigrantes gostam, mas é preciso mostrar que há mais, evoluímos”, disse. “E até evoluímos muito bebendo daquilo que os emigrantes foram trazendo e mostrando”.

Botelho sugeriu mudanças ao nível das organizações portuguesas encarregadas de manter a coesão das comunidades.

“Os emigrantes que consomem o produto dessas associações são os que estão a desaparecer”, disse. “As novas gerações não se identificam, porque essas associações transmitem aquilo que já transmitiam há anos”.

Segundo ele, “devia-se apostar numa política de inovação, de mudança, de mostrar o processo evolutivo dos Açores. As artes têm de estar ao serviço desta evolução”.

Tatiana Ourique frisou que “há muita modernidade” nos museus espalhados pelas várias ilhas e que será importante “incluir estes roteiros culturais” nas visitas dos emigrantes.

Outro caminho de intervenção, segundo a perspetiva do professor luso-americano Logan Duarte, é o reforço dos intercâmbios universitários. “Muitos jovens da diáspora têm uma visão muito tradicional dos Açores”, referiu.

“Adorava ver mais colaboração entre universidades e jovens luso-americanos”, afirmou, considerando que a literatura pode ser “uma grande unificadora”, em particular através das edições bilingues.

O fadista David Garcia, nascido na Califórnia, considerou que um dos problemas da comunidade portuguesa é não abrir as portas à comunidade americana, que sabe pouco sobre Portugal.

“O emigrante vive na saudade e na base das tradições. É o carnaval, é o folclore, são as bandas. A comunidade americana não sabe nada dos portugueses a não ser que fazem bom vinho e bom queijo”, afirmou.

Garcia lembrou que o número de associações portuguesas na Califórnia está a diminuir e que a situação tem tendência a piorar, porque as gerações mais novas “não conhecem os Açores” e ainda os associam aos carros de bois.

Uma das sugestões do fadista é a promoção de reportagens e filmes direcionados aos meios americanos, para chegar às gerações que não têm presente a evolução açoriana nas últimas décadas.

A questão foi ecoada por Sara Leal, realizadora e produtora que está a trabalhar em documentários sobre autores açorianos. Para ela, um dos problemas é a comunicação dos trabalhos que vão sendo feitos.

“Já fazemos muitas coisas, mas não são comunicadas como deve ser”, salientou. “Tem de se investir na comunicação também. Os orçamentos são relativamente reduzidos e essa fatia da comunicação não é considerada vital”.

Considerando que a distância não é emocional nem identitária, mas financeira, Sara Leal disse que “é importante criar algumas parcerias diretas e projetos conjuntos”, garantindo mais financiamento.

O simpósio virtual foi organizado pelo Instituto Português Além-Fronteiras, liderado pelo professor Diniz Borges na Universidade Estadual da Califórnia, Fresno, e teve o apoio da FLAD – Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, Governo Regional dos Açores, Associação dos Emigrantes Açorianos e Conselho de Liderança Luso-Americano, PALCUS.

Lusa

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Author: 97.3 FM, WJFD

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